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23 de junho de 2009

Ela procurava por respostas, e acabou encontrando-as. Porém, estas não lhe pareciam dizer a respeito. Concluiu que eram respostas para os outros, e não as suas. Mas isso a atraiu e lhe causou curiosidade. Não se contentou apenas com as respostas, queria conhecer suas perguntas originárias. E foi assim que começou o vício de querer desvendar pensamentos, como se lhe fosse capaz ler as mentes das pessoas, e por um instante acreditar que pudesse dominar ou se tornar uma 'líder' dos pensamentos alheios.

Sua personalidade mudou, sua presença se tornou algo incômodo para aqueles que tentavam se desvencilhar de suas perguntas-chave. Ela fazia do 'desvendar' um hobbie, até o hobbie virar rotina, e a rotina se tornar um tédio. As respostas que antes lhe surgiram tão sutilmente agora pareciam indecifráveis. Questionou e indagou, porém em troca recebia silêncios e olhares de desconforto. Estava conseguindo viver, mas ficou difícil praticar o conviver.

Buscava agora dentro de sua própria mente por uma solução. Não sabia o caminho de volta, decidiu pedir informação a alguém, mas não havia a quem recorrer. Pensou em pegar um atalho, mas recordou-se de que só se encontrava assim por justamente ter escolhido um. Agora estava sozinha, como companhia lhe restava somente as perguntas não respondidas dos outros e, consequentemente, também as suas.

Uma confusão tomava conta, os pensamentos davam nós. em sua frágil mente que não tentava penetrar em mais nenhuma outra, talvez nem em si própria. Era, literalmente, corpo presente e mente ausente. Pensou, pensou, ou ao menos tentou... pensar já não mais conseguia, pois havia gasto toda essa prática formulando perguntas e tentando descobrir os pensamentos ao redor.

As perguntas antes formuladas para os outros agora também eram suas, ou talvez nunca deixaram de ser. Não compreendia como havia chegado até esse estágio. E agora se questionava: "Por que me foram dadas as respostas dos outros?" / "Por que tenho de encarar olhares de indiferença?" / "O que me é preciso para conseguir obter as respostas?" / "Ou será que eu quem não está conseguindo entendê-las?"

O fato é que o querer 'entrar' na mente das pessoas fizeram com que ela não estivesse mais presente nas mesmas. Tudo isso porque não soubera interpretar que, desde o começo, as respostas 'dos outros' na verdade sempre foram suas... Pobre menina, não estava pronta para ouvir a verdade, foi mais fácil pegar o atalho ao encarar a estrada. Agora, quem sabe, talvez tudo se resolva com uma aula de interpretação de mente e outra de leitura de olhares.

Moral da História: "Em um mundo de perguntas e respostas, cada um deve saber interpretar as que levam consigo e as que vão nos olhos de quem passa. Não é preciso voz, mas sensibilidade."

- Lilian F. Pires -

P.S: Texto dedicado a Ana Clara que ao pedir uma dica sobre determinado assunto para um texto me incentivou a escrevê-lo... Bom, não sei se era exatamente isso que ela estava pensando e tentando me dizer, mas talvez se aproxime da idéia. Afinal, como ela mesma me disse: algumas coisas pensadas não precisam ser ditas não é mesmo?!